Duelo emocionante em Penamacor

Vasco Mendes, de 20 anos e representando o ADN Sesimbra, e Luís Silva, de 28, ADFA, protagonizaram o duelo mais emocionante no Ibérico de Orientação que o COC organizou em Penamacor. Aconteceu, domingo, na prova de Distância Longa. O espanhol Pablo Ferrando, herói das duas etapas de sábado, sofreu na competição decisiva uma lesão no tornozelo e teve de abandonar entre o ponto de espectadores e o último controlo de rádio.

Cerca do meio-dia e meia começava a desenhar-se o desfecho desta inesperada contenda lusa. No interior da enorme tenda que o município fizera montar na arena, centenas de pessoas abrigavam-se da chuva, algumas  formando fila para o almoço em regime de self-service. Lá fora, ouve-se então a voz do speaker anunciando a próxima chegada do atleta do ADFA, que, tudo indicava, vinha para a liderança da etapa e do troféu. E, na verdade, às 12h24, Luís Silva cruza a meta com 1.31.07, retirando 1.40 ao registo de Tiago Romão, do CMo Funchal, que encabeçava a tabela classificativa desde as 11h53. Ambos os atletas tinham cumprido o percurso dentro da janela de tempo recomendada para uma distância longa: entre 1h30 e 1h40. E Luís Silva parecia ter praticamente assegurado o título ibérico.

Porém, nem dois minutos após ter concluído o seu desempenho, eis que Vasco Mendes, que partira com uma diferença de 16 minutos, controla o último ponto de rádio. Eram 12h25. E o jovem sesimbrense, que passara nos espectadores a ganhar 1.26, tinha agora aumentado a vantagem para 1.44. Vivem-se momentos de aperto visceral. Eu próprio venho à porta da tenda para não perder pitada. Paulo Franco, no comando da locução e desejoso de agarrar o público, tenta perspetivar o que pode acontecer. Sem amolecer o discurso ou passando a palavra ao entrevistador de serviço, abre uma grelha Excel, executa uns cálculos rápidos para obter pontuações em percentagem relativamente ao tempo vitorioso na altura, soma aos resultados da véspera e engrossa a voz para decretar que a coisa está por um triz. Se Vasco aparecer dentro de xis minutos pode destronar Luís Silva.

Paulo Franco explicar-me-á, dois dias depois, que precipitadamente estabeleceu a pontuação percentual em relação a outro concorrente, no caso o espanhol Álvaro Garcia, daí resultando uma expectativa mais favorável para Vasco Mendes. Com base nesse pressuposto, traçou vários cenários por tentativa e erro e definiu o horizonte temporal para uma eventual chegada vitoriosa do corredor do ADN. Um colega do COC, na assistência informática, apercebe-se do deslize. Paulo põe um pouco de água na fervura, mas o cronómetro não abranda. Pelo menos quatro atletas tinham feito o último troço da prova em cerca de 11.30 e era de esperar que, mesmo esgotado pelo ritmo alucinante da primeira hora, Vasco não ultrapassasse em muito os 12 minutos. Para os apoiantes de Sesimbra foram instantes de sufoco. Longos no relógio da ansiedade, mas justos na medida universal do tempo: 12 minutos e 18 segundos depois do último ponto de rádio, Mendes cortava a meta com um registo abaixo de 1h30. Exatamente 1.29.02, ou seja, menos 2.05 que Luís Silva, sagrado ali campeão ibérico, por ter obtido melhor pontuação no conjunto das três disciplinas: Média, Sprint e Longa.

A consulta dos resultados mostra como a luta foi renhida. Num universo de 300 pontos possíveis, Luís somou 276,70 e Vasco 276,02. Uma diferença inferior a um ponto, mais precisamente 68 centésimos. Se não estão erradas as minhas contas, feitas a lápis como aprendi há 60 anos, bastaria a Vasco Mendes ter tirado 8 segundos no sprint para ser campeão ibérico. Se, em vez de 17.02, tivesse concluído a prova em 16.54, ficaria na mesma em 6º lugar na etapa, mas teria uma pontuação de 88,06 em vez de 87,37. Por outras palavras, teria amealhado mais 0,69 pontos, que, somados aos outros registos, ter-lhe-iam dado uma vantagem final de 0,01 pontos, ou seja, uma centésima.

São contas de merceeiro, que não toldam horizontes a dois jovens talentosos com bastas provas dadas na nossa modalidade e certamente com um longo futuro de sucessos pela frente. Um pouco mais adiante, voltaremos a eles para saber, contada na primeira pessoa, como viveram esta aventura de Penamacor. Mas, para já, é tempo de olhar o evento num ângulo mais aberto.

 Portugal bem atrás de Espanha

Esta prova do Clube de Orientação do Centro leva o nome de Penamacor International Orienteering Meeting (PIOM), numa homenagem que os praticantes de Leiria rendem ao município do interior com o qual desde há anos mantêm estreita colaboração. Simultaneamente, serviu este ano, como aliás em 2019, para ser ali disputado o Campeonato Ibérico Masculino. Todos os 750 participantes, incluindo as classes femininas, viram os seus percursos classificados no PIOM, mas os títulos ibéricos estavam apenas ao alcance dos 14 escalões masculinos entre H14 e H75, assim se complementando a competição feminina que decorreu, a 25 e 26 de março, na província de Toledo.

Desviamos aqui dois parágrafos para assinalar a ocorrência dessa prova que, na altura, ficou sem registo na nossa página. Com etapas em Gamonal, Navalcán e Los Motores, desenrolou-se a sul da serra de Gredos e não muito longe do pitoresco Vale de Jerte onde, nessa semana, começavam a branquejar as manchas de cerejeiras em flor que, todas as primaveras, ali atraem milhares de turistas. Os terrenos de média e longa eram muito interessantes, embora a cartografia tenha merecido alguns reparos. Do sprint queixou-se quem esperava percursos mais urbanos. O anunciado misto tombou muito para o lado da floresta às portas de Navalcán.

Os resultados desse ibérico feminino foram uma deceção para as concorrentes portuguesas. Dos 13 títulos em discussão, as nossas compatriotas arrecadaram apenas três e precisamente nos escalões etários mais avançados, o que diz bem da diferença de vitalidade deste desporto nos dois países. Foram campeãs Luísa Mateus e Isabel Monteiro, do COC, e Maria São João, do CLAC, respetivamente em D60, 65 e 70. E das restantes 35 medalhas vieram para Portugal somente mais duas: Susana Pontes (COC), 2ª em D40, e Fernanda Ferreira (Bairrada), 3ª em D65.

Os homens estiveram agora, em Penamacor, um pouco melhor que as senhoras, há dois meses, em Toledo. Conquistámos seis dos 14 títulos, mas, tal como em Espanha, a esmagadora maioria é de veteranos acima dos 50. A saber: Joaquim Sousa, Saca-Trilhos, H50; Victor Delgado, 4 Caminhos, H55; José Fernandes, .COM,  H60; Manuel Dias, ADN Sesimbra, H70; e Francisco Coelho, TAP, H75. Só Luís Silva, como atrás ficou dito, foi campeão em Elite, sendo Vasco Mendes vice-campeão. Dos restantes 35 lugares de pódio ibérico, ocupámos apenas oito: Lucas Coelho, Oriented Aguiar, 3º em H16; Arnaldo Mendes, Mondego, 2º em H35; Jorge Correia, ADFA, 3º em H40; Rafael Lima, COC, 2º em H55; Manuel Luís, Armada , 2º em H60; Custódio Pinto, Viseu, 2º em H65; Álvaro Coelho, Mondego, 2º em H70; e Gil Rua, Estarreja, 2º em H75. Mais uma vez, pódios muito encanecidos.

Uma vitória com passaporte sueco

À margem do Ibérico, as atletas portuguesas não foram também, de modo geral, muito felizes no PIOM. Fica o registo das exceções: Beatriz Coelho (TAP), Luísa Gaboleiro (Sesimbra) e Maria São João (CLAC) venceram em D20, 60 e 70; Mariana São Bento (Montanha), Paula Serra Campos (.COM) e Helena Sousa (Marão) foram 2ªs em D20, 45 e 50; Alexandra Serra Campos, Tânia Covas Costa (ambas .COM) e Ana Carreira (CPOC), 3ªs em D18, 35 e 70.

Falta referir o nome de Filipa Rodrigues, com um meritório 3º lugar na Elite feminina e uma vitória individual na derradeira etapa, quebrando assim a invencibilidade de Maria Prieto, destacada vencedora do escalão. A atleta do ADFA, que vive na Suécia e beneficia certamente do ambiente propício à prática da modalidade, ficou muito chegada a Nerea González, que lhe levou vantagem no pódio por menos de um ponto em 300 possíveis.

Com esta reportagem em vias de conclusão, vibra o telemóvel. É a Filipa a corresponder ao depoimento pedido na véspera. Segue em versão comprimida:

“Gostei muito dos terrenos, técnicos e rápidos ao mesmo tempo, a exigir concentração máxima. Já não competia em Portugal desde 2019 e sentia-me um pouco enferrujada. Não fiz nenhuma prova limpa neste fim de semana, mas foi definitivamente na Longa que tive a minha melhor prestação, apesar de vários pequenos erros e hesitações. Tentei compensar na corrida, mas perto do fim estava bastante cansada. As viagens de sexta-feira também não ajudaram: cheguei a Portugal ao fim da tarde e a Penamacor quase às 23h. Na Suécia participo regularmente nos campeonatos nacionais e regionais, e nas grandes estafetas nórdicas (10mila e Jukola).”

Sesimbra no pódio

Em termos coletivos, o ADN Sesimbra conquistou um encorajante 2º lugar, atrás dos espanhóis de Málaga (COMA) e à frente dos minhotos do .COM. Além dos três atletas acima nomeados, a nossa pontuação global resultou das prestações de vários outros praticantes que, sem lugar de pódio final, concluíram um ou mais percursos em posições de destaque. Foram, entre outros (25 no total), os casos de Tiago Baltazar, com dois 4ºs e um 7º lugar; Miguel Manso (4-3-7); Leonor Ferreira (5-8-6); Afonso Ferreira (10-7-9); Nuno Ferreira (4-2- “dns” por lesão); Joana Canana (8-11-13); Luís Boal (21-9-6); Sofia Pulquério (12-9-15), André Pereira (13-14-9); e Miguel Canana (11-10-20).

Uma palavra de grande apreço é também devida à tenacidade da nossa Jesus Leão, que no domingo, ombreando com as jovens elites, enfrentou o mato e a chuva durante mais de 3h e, já terminada a cerimónia de encerramento, surgiu na arena provavelmente exausta mas com o seu sorriso inderrotável.

Organização: 75 pessoas e 236 pontos no terreno

Só uma grande organização, bem articulada com autarquias e proprietários, consegue montar um evento com a qualidade deste Ibérico. Desde, pelo menos, o POM 2002 (Praia da Vieira e Marinha Grande) que o COC nos habituou a realizações de excelência. Só  Ibéricos já vão quatro (2001, 2010, 2019, 2023). Há equipas rotinadas e novos elementos vão sendo integrados. Desta vez, por exemplo, eram 12 pessoas a colocar pontos no terreno: seis equipas de dois elementos cada, um mais experimentado, outro mais verde para ir ganhando calo. Ao lado de gente com a experiência de Jorge Oliveira, Susana Pontes ou Adelindina Lopes, havia jovens de 15 ou 16 anos, como António Oliveira, Miguel Ferreira e Dinis Santo. Todos os pontos tinham já sido visitados em duas jornadas: 2 e 22 de abril. E, antes disso, em março, Rui Antunes, Carlos e Isabel Monteiro, passaram sete dias na zona, avaliando sugestões de percursos, situações a carecer de solução, como o atravessamento de cercas, ou no diálogo com proprietários.

E não se achavam em terreno desconhecido. Esta prova, na altura com duas etapas de distância média, esteve prevista para 20 e 21 de fevereiro de 2021 e só cancelada devido à pandemia.

Deste modo, chega-se à data do evento sem grandes atribulações. A Câmara de Penamacor contratou uma empresa para, no início da semana, instalar a tenda por onde, em momentos diferentes, foram passando os mais de 700 participantes. Tratou-se da eletrificação da arena, assegurou-se a manutenção permanente dos sanitários portáteis.

No sábado e domingo, incluindo uma dezena de funcionários municipais ou afins, a organização contou com aproximadamente 75 elementos. Foram colocados no terreno 90 pontos na distância média, 94 na longa (apenas oito comuns às duas etapas) e 60 no sprint. Havia gado a movimentar, portões a terem de ser abertos e fechados, passagens a assinalar nas cercas. No total, foram demarcados 38 pontos de atravessamento.

Tudo programado menos a inundação

Com antecedência estava tudo programado: viaturas para transporte dos abastecimentos e equipamento destinado a locais mais longínquos, relógios, cavaletes e estacas metálicas ou em fibra de vidro, consoante os casos. Tudo programado menos o temporal que, a meio da tarde de sexta-feira, se abateu sobre a região. A estrutura do pavilhão previsto para o solo duro suportou a violência da chuva e do vento, mas não evitou uma monumental inundação. Às 18 horas, quando foi abri-lo para receber os primeiros clientes, a organização percebeu que tinha ali umas horas de trabalho árduo para restituir comodidade às instalações. Criou-se um espaço alternativo na área programada para o babysitting do Sprint e encaminharam-se para lá os atletas que iam chegando para a pernoita. Houve então que levantar os grandes tapetes que protegem o pavimento do pavilhão, abrir as tampas de escoamento e proceder à secagem de todo o recinto.

São imprevistos a que só uma equipa robusta consegue dar resposta sem comprometer outras tarefas. A organização de provas é uma competência que se aprende, treina e fortalece. Com a prática, mas também com estudo e partilha de experiência. A FPO já promoveu ações de formação nesta área, a última delas em novembro de 2022. E adivinhem quem foi o formador. Exatamente, Carlos Monteiro, o diretor técnico deste Campeonato Ibérico.

A sua paixão pela modalidade e a sistematização de conhecimentos levam-no a não desprezar pormenores que podem parecer irrelevantes. Estávamos a falar do traçado de percursos nesta prova e ele lembrou uma conversa que teve, no POM de Quiaios em 2010, com a campeoníssima suíça Simone Niggli-Luder. Quando há momentos de viragem nos percursos (por exemplo, numa extremidade do mapa de onde é necessário reconduzir os atletas), nunca se usa menos de dois pontos, e de preferência mais, para evitar acumulação de concorrentes e, consequentemente, a “oferta” do controlo a quem venha logo atrás em contacto visual.

A simpatia dos proprietários pela orientação nunca será natural. Consoante a natureza dos terrenos, há culturas que podem teoricamente ser invadidas, muros e cercas derrubados, gado que é preciso deslocar. Os proprietários, desconhecendo as regras da modalidade, têm à partida legítimos receios. É preciso conquistá-los fazendo perceber o respeito que temos pela natureza e pela propriedade. Por isso foi tão importante ver na entrega de prémios, além de outras entidades, também os donos dos terrenos, com destaque para o eng. Pedro Robalo, a quem pertencem as maiores parcelas do palco onde se desenrolou esta competição.

Luís Silva: da Escócia 2008 aos 8.45 nos 3000 metros

O texto já vai longo e, por isso, terei de abreviar os depoimentos que tanto o Luís como o Vasco amavelmente me enviaram em tempo recorde sobre a sua participação no Ibérico e não só.

O nome de Luís Silva foi aqui mencionado na última crónica como um dos talentos que saíram da Secundária de Pinhal Novo pela mão de Daniel Pó. E, no seu currículo, lá figuram realmente os Mundiais de Desporto Escolar ISF (Escócia 2008, Espanha 2009 e Itália 2011, onde foi vice-campeão de Dist. Longa), a par de três EYOC (Sérvia 2009, Espanha 2010 e Rep. Checa 2011), dois JWOC (Polónia 2011 e Eslováquia 2012) e um EOC (Portugal 2014).

Abruptamente, em parte devido à dedicação académica, Luís eclipsa-se da orientação durante sete anos (2014-2021). Entre 2010 e 2014 tinha bisado os títulos de campeão nacional nas três disciplinas individuais: Média, Longa e Sprint. E em 2011, em Viseu, fora 4º no Campeonato Nacional Absoluto, classificação que, dez anos depois, repete em Avis, na sua primeira prova depois do longo interregno.

O sucesso de Avis, contudo, não cega Luís Silva. “Esse resultado”, diz, “foi obtido sobretudo por estar num bom nível físico e o mapa ser simples”. Ele tem a consciência de que, com a suspensão da prática, a sua “capacidade técnica sofreu um retrocesso brutal”.

Nesse hiato não esteve inativo. Fez e continua a fazer atletismo com marcas invejáveis no nosso panorama. Por exemplo: 3.58 nos 1500m; 8.45 nos 3000m; 15.24 nos 5000m.

O regresso à orientação tem sido gradual, com apenas três provas em 2022, numa das quais, em Aguiar da Beira, encaixou “uma valente tareia” do Tomás Lima e do Vasco Mendes. Esse desaire não o derrubou, antes lhe deu determinação para treinar com mais afinco.

Omito pormenores dos Nacionais de Longa (6º) e Sprint (3º), bem como do Absoluto em Paredes de Coura (5º). As suas próximas palavras são já sobre o Ibérico de Penamacor.

 “Fisicamente”, explica, “procurei fazer treino mais relevante para a orientação (o rogaine, apesar de ter sido um claro exagero, veio um pouco nesse sentido), e tecnicamente procurei encontrar alguma da minha antiga agressividade/confiança na floresta. Fazer o model event foi determinante, mas continuava receoso quanto às provas, particularmente a Longa, por saber que o terreno seria desafiante.” Conta que entrou “muito a medo” na Média, mas errou pouco, tal como no Sprint. E foi essa regularidade, mantida na Longa, que fez dele o campeão ibérico 2023.

“Pessoalmente”, conclui, “estou feliz, porque não tem sido fácil regressar ao meu antigo nível, e isto foi mais um passo importante. Foi também um ‘boost’ à minha confiança e motivação; ainda tenho alguns objetivos na orientação, a longo prazo, mas há muitos passos intermédios que têm de ser dados.”

Vasco Mendes: “O melhor sprint da minha vida”

Não foi literalmente o que o Vasco disse, mas é a maneira mais apelativa de o pôr no título. Leiam e verão que não anda longe da verdade. O depoimento do atleta sesimbrense, que reproduzimos também com alguns cortes, vai direto às três etapas do Ibérico:

“Na Média, entrei super bem no mapa. Só no ponto 6 é que, devido a um erro de paralelismo na abordagem, perdi cerca de 1’30. A abordagem ao 8 custou-me outro minuto, mas depois a prova foi limpa até ao final, terminando a cerca de 3’30 do Pablo Ferrando.

O Sprint de sábado à tarde foi um dos melhores que já fiz em toda a minha vida. O percurso era de alto nível e exigia extrema concentração para não falhar nenhuma rua. Perdi 35-45” em duas situações a seguir ao ponto de rádio.

Era para a Longa que eu sabia estar mais capaz, admitindo que podia chegar ao pódio. Sabia o tempo de passagem do Romão nos espectadores e foi essa a única referência que levei para a prova. Fiz uma partida confiante com ritmo confortável, para evitar erros até ao ponto de espectadores. Aí percebi que ia a fazer uma boa prova e que só tinha de continuar com boas tomadas de opção e manter o ritmo. Na pernada mais longa perdi algum tempo em hesitações e a atravessar cercas. No total da etapa, uns 3-4 min. O importante era fazer o ataque aos pontos de forma certeira. No geral, o percurso tinha um traçado incrível.

Apesar do fim de semana chuvoso, esta foi para mim, sem dúvida, uma das melhores provas de 2023.”

Também questionámos Vasco Mendes sobre a sua preparação para as próximas competições internacionais, designadamente o WOC de Flims.

“Não é segredo nenhum. Este ano decidi fazer uma abordagem diferente. Após a World Cup na Suíça em 2022, percebi que me faltava muita força e quilómetros nas pernas. Decidi, por isso, focar o meu treino mais na elevação do que nos km, fazer muitas rampas e só ir à pista para treinos específicos. Sinto que foi uma ótima decisão, pois a cada prova consigo impor mais força a subir e manter ritmos elevados durante mais tempo.

Penso muito nas montanhas da Suíça, mas o meu objetivo principal é o europeu universitário em agosto.”

Pablo Ferrando torceu o tornozelo

Esta foi a segunda vez que corri o PIOM, depois da edição de 2019. Lembrei-me que o terreno era rápido mas com partes técnicas de rocha, por isso no sábado fui devagar para tentar não falhar os primeiros pontos. Foi difícil para mim ajustar a velocidade e cometi pequenos erros de direção, mas assim que fiquei confiante com o terreno comecei a forçar até o final.

Estava ansioso pelo sprint, as cidades portuguesas nunca desiludem. Um sprint muito técnico e provavelmente o melhor mapa em que já corri. Fiz algumas opções erradas e nem sempre acertei com as ruas à primeira. Gostei tanto que cheguei à última parte da corrida sem forças.

A Longa no domingo seria difícil. Comecei com um ritmo controlado, mas cometi alguns erros na busca de encontrar os melhores sítios onde pular as cercas. Infelizmente, logo após a passagem no ponto de espectadores, torci o tornozelo. Tentei continuar, mas a dor não passava, então decidi parar. Uma pena, porque estava gostando muito de correr na chuva.

Nunca me canso de voltar a Portugal!!

Manuel Dias